Observar a natureza pode ser instrumento de pesquisas científicas, de estudo, admiração e fonte de grande inspiração para diversos artistas. Na sua vastidão em beleza, a diversidade de formas, cores, estruturas, texturas e afins que são encontradas em meio da natureza, proporcionam uma infinidade de referências para serem usadas em diversos campos da vida, até mesmo na arquitetura.
Um grande exemplo de arquiteto que se inspirou na natureza para suas criações é Antonio Gaudí, nascido em Reus, Catalunha, Espanha, em 25 de Junho de 1852 e morreu em Barcelona, em 10 de Junho de 1926. Foi responsável pela criação de obras primas como a Casa Batló, o templo Sagrada Famílias, o Parque Guell, entre outras tantas obras. Essas grandes obras se encontram em Barcelona. Todas elas possuem em seus traços orgânicos claramente a inspiração de seu autor na natureza. Muito provavelmente a mais conhecida e divulgada de suas obras é a Sagrada Família, projeto iniciado em 1882 que até hoje, passados 135 anos, continua sendo construído.
Ao adentrar ao templo, se observamos as colunas que ele projetou, temos a sensação de estar visitando um grande bosque banhado de luz natural filtrada pelos belíssimos vitrais coloridos. E essa é a ideia que o arquiteto queria passar, de que a natureza se fazia presente em sua criação. O seu sistema de pilares e arcobotantes refletem as leis da natureza. Ele trabalhava com superfícies regradas, que são formas geradas por uma reta, denominada geratriz, ao se deslocar sobre uma linha ou várias, denominadas diretrizes. E foi na natureza que Gaudí as encontrou. Dizia que não existe melhor estrutura do que um tronco de árvore ou um esqueleto humano. Estas formas são ao mesmo tempo funcionais e estéticas. “Minha obra está nas mãos de Deus e na vontade do povo”. – Antonio Gaudí era um observador assíduo de dos fenômenos naturais, desde ao crescimento das plantas e, dessa forma, procurava entender como uma árvore se mantinha em pé e sustenta galhos e folhas. Se fossemos resumir aqui fazer uma análise visual da obra em questão, poderíamos dizer que suas obras são marcadas, além das figuras dos santos, episódios bíblicos e escritos religiosos, pelas curvas, presença da luz natural, referências ao movimento das ondas, ao mundo aquático, troncos das árvores, folhagem, símbolos, emblemas, elementos da flora e fauna catalã.
O telhado curvilíneo com aparência de escamas da Casa Bartlló é uma riqueza de referências ao mundo réptil. Gaudí quis enriquecer cada detalhe em seus processos artesanais. É um nítido exemplo da síntese entre natureza e arquitetura. Seu cuidado com os elementos internos como portas, janelas, escadas, molduras, nichos retorcidos e sinuosos são o resultado das formas naturais e orgânicas como as formas répteis, insinuações de ossos e curvas como ramos de videira. Gaudí, um arquiteto contemporâneo de seu tempo, com projetos marcantes que não podem ser enquadrados nos limites estreitos das ‘escolas’ arquitetônicas, abriu um novo caminho no modernismo espanhol. Sua experiência influencia até hoje arquitetos e artistas. Seu legado é uma manifestação da arte catalã. “A lição ativa e vital de Gaudí reside, certamente, na inextinguível e ansiosa busca da expressividade”. (MASINI, Lara – Antoni Gaudí. Barcelona, Ediciones Nauta, 1970.)