As florestas desempenham papel de acumulação, limpeza, distribuição e regulação dos recursos hídrico; diminuem o risco de inundações; purificam a água contaminada; contribuem com a manutenção de populações de diversas espécies de fauna aquática; reduzem a probabilidade de extinção de espécies aquáticas; colaboram para evitar a extinção de rios; são responsáveis pela evapotranspiração, fenômeno essencial para a formação de chuvas. Apesar de todas essas valiosas funções, as florestas não têm recebido tratamento a altura de sua relevância, principalmente no Brasil.
As florestas estão intimamente vinculadas a economia hídrica e alimentar de uma região. Assegurar o abastecimento de água, em qualidade e quantidade, para consumo humano, agricultura e indústria, é um dos objetivos mais urgentes da humanidade. A proteção das florestas facilita o cumprimento desse objetivo, em razão de sua influência sobre a vitalidade do ciclo hidrológico. A disponibilidade de água depende da proteção dos ecossistemas florestais. Desse modo, uma gestão sustentável dos recursos hídricos implica a consideração das funções ecológicas, econômicas e sociais das florestas em uma escala local, nacional e global. As práticas de gestão florestal devem conservar as florestas primárias e climácicas e proteger a quantidade e qualidade das águas, mantendo e desenvolvendo funções protetoras das florestas, como proteção dos ecossistemas aquáticos e agrícola e a proteção frente a inundações e erosão.
A disponibilidade e qualidade da água enfrenta, em muitas regiões do mundo, incluindo o Brasil, crescentes ameaças decorrentes do desmatamento, sobreexploração, desperdício, contaminação e impactos negativos das mudanças climáticas. Os padrões de mudança nas precipitações e a escassez hídrica são uma realidade. A estabilidade do volume de água em reservatórios e cursos d’água está relacionada com a existência das florestas. Apesar dessa importante relação, é difícil encontrar alguma região no Brasil que não tenha sido comprometida pela devastação de matas ciliares e que não estão contaminadas.
O equilíbrio ecológico e o bem-estar humano estão intrinsecamente vinculados à disponibilidade de água. A água é um bem escasso e finito e indispensável para as mais diversas atividades humanas, em especial a agricultura. Por isso, os proprietários agrícolas devem, por seus próprios interesses, estar a vanguarda da defesa das florestas e da vegetação nativa, em particular nas áreas diretamente relacionadas com a proteção dos recursos hídricos.
Um dos principais desafios dos líderes políticos e encarregados da gestão das terras, florestas e água é como otimizar ao máximo o grande número de benefícios derivados das florestas. Em países em desenvolvimento, como o Brasil, a chave está em evitar o desmatamento e a degradação florestal para não prejudicar ainda mais os recursos hídricos e as funções ecossistêmicas, especialmente no contexto da adaptação às mudanças climáticas, que reforça cada vez mais a importância da coordenação sustentável das florestas. Somado a isso, é imprescindível que se realizem maiores sinergias entre os gestores públicos, comunidades e proprietários agrários, mediante estabelecimento de mecanismos institucionais com a finalidade de implementar programas de âmbito nacional, regional e local. Falta-se compreender melhor as interações entre as florestas e a água, e integrar, nas políticas públicas, os resultados das pesquisas realizadas nessa área de estudo.
Entre as funções protetoras mais importantes das florestas estão a proteção do solo e dos recursos hídricos, uma vez que as mesmas defendem eficazmente a estabilidade do solo, por meio de suas árvores e resíduos orgânicos. As características da vegetação que cobre o solo influencia mais do que nenhum outro fator sobre as perdas de solo por erosão e redução da água armazenada no subsolo. Daí a importância de se manter a cobertura vegetal, especialmente em locais vulneráveis à erosão e zonas de relevância ecológica.
Atualmente, não há um modo de atender as necessidades humanas sem proteger as florestas, solos e os recursos hídricos, uma vez que para que a terra continue fornecendo o que o homem necessita, a mesma deve ser preservada. É primordial, como primeira medida para enfrentar as crises climática e hídrica, impedir a eliminação das florestas primárias e recuperar cada parcela do terreno já desmatado para produção do que seja apropriado, satisfazendo as necessidades humanas sem desmatar e degradar mais solos. Obviamente, seria mais fácil aplicar essa premissa se a população não continuasse a crescer descontroladamente e o homem mudasse seu padrão de vida consumista e imprudente.
Concluindo, a questão não consiste em mudar o uso dos solos destinados para pastos em florestas. O que se propõe é recuperar, aproveitar e cuidar dos solos já desmatados e manter os últimos remanescentes florestais primários do planeta. É claro que, se a fome agravar, os cereais serão mais indispensáveis do que os pastos. De todo modo, deve-se atentar que a água é o bem mais indispensável pois sem ela não haverá carne, trigo, arroz e batata, e esse é mais um motivo para não se esquecer que sem florestas as fontes de água podem secar. A vitalidade dos ecossistemas florestais continua sendo a condição fundamental para qualquer sistema de agricultura permanente e para o desenvolvimento sustentável.